terça-feira, 28 de agosto de 2007

impressões de florianópolis


Passei uns dias em Florianópolis na semana passada. Aproveitei vários momentos em que não tinha coisa alguma para fazer para, pura e simplesmente, observar a vida da cidade. Primeiro o óbvio: Um tanto diferente da vida de outras capitais. Há um ritmo todo próprio. Uma cidade que mistura a agitação de motoristas sempre apressados com a leveza daqueles que parecem andar sem rumo.

Dessa primeira observação, deriva a segunda. Há algo de surpreendente na vida cotidiana das ruas da ilha. Pouco movimentadas em diversos horários, várias ruas antigas lembram (mesmo que não em toda gravidade) cenários de penúria como do cortiço descrito por Aluísio Azevedo. A pobreza de vários “transeuntes” é evidente. Aquela pobreza que o bom e velho preconceito nos faz confundir com vadiagem.

Quando comparamos a ostentação de seletos grupos (em seus “territórios insulares” igualmente definidos...), vemos que aqueles tipos humanos se excluem. Se estranham. O entreolhar é constante. Aquilo me causou a impressão de que há, paradoxalmente, um equilíbrio e um conflito. A ilha da prosperidade, e é assim que a bela capital de Santa Catarina é propagandeada na grande imprensa, resume a hipocrisia típica do brasileiro. Para abusar da frase feita: um barril de pólvora que, eventualmente, pode ter vindo com o fósforo junto.

É inegável a beleza de inúmeras paisagens daquela gota de terra. Mas me parece igualmente inegável as conseqüências já de curto prazo da recente onda migratória para a cidade. Num território tão restrito em termos de espaço, até por se tratar de uma ilha, em tão baixas altitudes, e no contexto de uma ocupação historicamente desordenada, a perda da qualidade de vida (assim como a perda do patrimônio natural) é previsível. Talvez esteja passando do tempo de repensarem que rumos querem para aquela que é a carta de apresentação de um estado tão charmoso.

Na viagem de volta procurei digerir o assunto. Curiosamente, lembrei de um chavão comum no discurso historiográfico: o equilíbrio muitas vezes antecede o conflito...

Um comentário:

Unknown disse...

Excelente observaçoes!
Será que é possivel que todos pensem assim?